O pedreiro Adriano Santos, 36, presenciou a retirada de quatro corpos da lama ao longo da tarde deste sábado (26), em Brumadinho (MG). Na cidade da região metropolitana de Belo Horizonte fica a barragem da Vale que rompeu na sexta (25), matando 34 pessoas até agora.
"Eu, algumas pessoas da região e brigadistas começamos a andar por aqui e achamos dois corpos, uma mulher e um homem. Acenamos para o helicóptero", conta à Folha de S.Paulo enquanto mostra vídeos dos corpos no celular.
"Está todo mundo desesperado e unindo forças", completa.
Eram cerca de 13h. Mais tarde, mais dois corpos foram retirados do lamaçal na região conhecida como horta, entre Parque da Cachoeira e Tejuco, bairros de Brumadinho mais atingidos.
O local era literalmente uma horta, mas nada restou da plantação de hortaliças e milho. Os galpões onde as verduras eram encaixotadas com destino ao Ceasa ficou destruído. Também se foram armazéns de adubo e semente.
Segundo Santos, que mora na região, os trabalhadores da horta conseguiram escapar, mas perderam seus empregos. Ele também tem conhecidos desaparecidos na tragédia.
"Infelizmente muitos corpos vão ficar sepultados debaixo dessa lama. Infelizmente não vão achar todos", lamenta o pedreiro.
Conhecedor da região, Santos mistura a surpresa com a desconfiança de que uma hora ou outra a barragem cederia. "Mais cedo ou mais tarde aconteceria, mas eu não achava nunca que ia acontecer."
Santos deixou a região durante a tarde em meio aos boatos, que vem e vão, de que uma quarta barragem, com água, também teria se rompido. Na verdade, as autoridades acompanham a situação da barragem, e a Vale está drenando o local –por isso, a água desce pelo leio do rio Paraopeba e a população conclui erroneamente que houve um rompimento.
São drenados 300 metros cúbicos de água por hora. Para que o trabalho de drenagem se intensifique, os bombeiros paralisaram as buscas entre 20h deste sábado e 4h de domingo (27).
O rompimento da barragem de água é a principal fake news que circula na região. Os boatos se alastram, e moradores se juntam em todos os pontos da cidade onde há lama para observar o trabalho dos bombeiros.
Há locais isolados pelas autoridades, e a região da Mina do Córrego do Feijão, de propriedade da Vale, também é inacessível para a população comum. Outros pontos, como a região da horta e casas atingidas em Parque da Cachoeira, porém, estão abertos e concentram dezenas de curiosos.
Uma casa parcialmente atingida pela lama, em Parque da Cachoeira, é um dos pontos de atração. A estrutura está condenada, com paredes derrubadas e enormes rachaduras. Ainda assim, dezenas de pessoas vão ao local ver a lama que atingiu parte dos cômodos e a montanha de destroços e madeira que se acumulou no quintal. Com informações da Folhapress.