A defesa de Cléia Rosa dos Santos, suspeita de encomendar a morte do marido, Jandirlei Alves Bueno, de 39 anos e o amante, Adriano dos Santos, em 2016, rebateu as acusações feitas pela polícia de que ela seria a mandante dos dois crimes. Segundo o advogado Erick Rafael da Silva Leite, que a representa, a mulher só é culpada de um dos crimes, mas só o cometeu porque “se viu sem saída para frear as agressões e estupros que sofria”. Pela suspeita de ter envolvimento na morte do marido, Cléia ficou conhecida como "viúva negra".
Em entrevista ao Olhar Direto, o advogado explicou que Cléia tinha um relacionamento com Jandirlei, com quem foi casada e teve dois filhos e acabou se envolvendo em um relacionamento extraconjugal. “O Adriano e o marido dela eram muito amigos, trabalhavam no mesmo local. Porém, ele acabou se apaixonando por ela e viu uma oportunidade – quando ele e Jandirlei foram até uma casa de prostituição – de conseguir algo utilizando disto”.
“Esta foi a oportunidade que ele [amante] queria para ficar com ela. Disse que o marido a estava traindo e que poderia provar, mas só se ela mantivesse relação sexual com ele após isto”, disse o advogado. A defesa acrescenta que Cléia então topou ‘pagar o preço’ e quando descobriu que Jandirlei a estava traindo, resolveu se relacionar com Adriano.
O advogado explica ainda que os dois ficaram duas vezes, mas depois Cléia resolveu acabar com o relacionamento extraconjugal, já que ela se reconciliou com o marido. Eles viveram um ano sem atritos, até que houve a invasão na casa do casal, que culminou no atentado contra Jandirlei.
“O Jandirlei ficou dois meses no hospital. Durante 49 dias, ele ficou perfeito, conversando. Durante a investigação, não se achava nada e neste meio tempo ele disse ter ouvido a voz do Adriano na casa. Acho isto, com todo respeito, um pouco absurdo. É psicologicamente comprovado que, em momentos de conflito e grande emoção, há um distúrbio rápido no cérebro, é difícil identificar uma voz”, comentou o responsável pela defesa.
Ainda segundo a defesa, Jandirlei morreu por conta de uma cirurgia não realizada. Esta informação, segundo ele, consta do depoimento do médico que atendeu o marido de Cléia. Após a morte dele, a polícia começou a realizar interceptações telefônicas e viram que a acusada e o amante voltaram a se relacionar.
“Adriano era muito possessivo. Só no tempo em que eles ficaram junto que ela foi perceber isto e não quis mais ficar com ele, que a agredia e a estuprava constantemente. Ele ameaçava matar os filhos dela se houvesse qualquer tipo de denúncia. Virou um transtorno psicológico”, disse o advogado.
Certo dia, Adriano teria dito para Cléia que foi ele o responsável por matar Jandirlei. “Foi então que ela ficou com muita raiva e articulou toda a morte do amante. Ela acreditou que seria a última saída. Ela contratou uma pessoa, que se juntou a outra e armou o esquema para matá-lo. Foi ela quem deu sonífero para o Adriano e os dois rapazes vieram e concluíram o homicídio. Ela não viu nada”, argumenta o advogado.
“De fato, ela matou o Adriano, mas não o fez com Jandirlei. A linha dos autos demonstra isto, não há qualquer prova concreta de que foi ela quem mantou o marido. Só os familiares é que dizem que ouviram falar e uma pessoa que apareceu dizendo que ela tentou contratar alguém para matar o marido. Como que ultrapassado um ano e meio, uma pessoa chega e fala isto, se nem o Jandirlei eles conheciam, já que seriam contratados para matar Adriano”, acrescenta Erick Rafael.
A defesa pontua que, durante as interceptações, não houve nada que indicasse o conluio dos dois para matar Jandirlei. “Vamos lutar constantemente para absolvê-la no tribunal do Júri no caso da morte do Adriano. Porém, ela não tem nada a ver com o homicídio do Jandirlei. Existe uma tese de inexigibilidade de conduta adversa. Qualquer pessoa naquela condição faria isto. Existe um momento em que o cidadão vai estourar. Diante de tudo que ela passou, em favor dos filhos, da mãe, se viu obrigada a isto”.
O advogado também crê na hipótese de que a morte de Jandirlei tenha sido planejada por Adriano, na intenção de que a mulher ficasse com ele. Por fim, a defesa também crê que a prisão preventiva da acusada também é muito extensa, já que ela está detida há quase um ano.
O Júri deve ser pronunciado nas próximas semanas. Enquanto isto, Cléia continua a aguardar o julgamento presa. A defesa tentou usar a tese de que ela teria que criar os filhos, o que não foi aceito no Habeas Corpus.
O caso
Uma mulher identificada como Cléia Rosa dos Santos, de 34 anos, foi presa em março do ano passado, acusada de mandar matar o marido, Jandirlei Alves Bueno, de 39 anos, em Sinop (480 km de Cuiabá). O crime foi cometido por seu então amante em 2016 em uma simulação de um latrocínio. Um ano depois ele também foi assassinado – conforme a polícia - a mando da suspeita, que contou com a ajuda de dois guardas noturnos.
Ambos foram presos e, assim como Cléia, confessaram a participação no crime. Os restos mortais do amante foram localizados enterrados em uma área de mata. A vítima, de acordo com a polícia, é Adriano dos Santos, 20 anos. Na mesma vala, os assassinos enterraram uma motocicleta, que foi encaminhada junto a ossada para análise da Perícia Oficial de Identificação Técnica (Politec).
Neste crime, Cléia teria dopado o amante até que os executores chegassem ao local. Adriano foi morto com golpes de enxada. A suspeita é que o amante passou a ameçá-la.
Jandirlei, por sua vez, foi atingido por dois golpes de faca, em outubro de 2016, chegando a permanecer internado no Hospital Regional por quase dois meses, falecendo em seguida. Na data do crime a mulher contou à polícia que estava em casa com o marido quando foram rendidos por dois assaltantes. Diante de uma reação do homem, os bandidos então teriam o esfaqueado.