A Defesa Civil de Minas Gerais informou, no início da noite desta quinta-feira (31), que há 110 mortos e 238 desparecidos após a tragédia provocada pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Dos 110 mortos confirmados até agora, 71 foram identificados. Até agora, 394 pessoas foram localizadas. O número de desalojados ou desabrigados é 108.
Em entrevista coletiva para falar sobre o balanço deste sétimo dia de buscas, o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, tenente Pedro Aihara, afirmou que a maioria dos corpos já localizados estava em regiões superficiais.
A partir de agora, o trabalho dependerá mais de escavação e estabilização do solo, o que deve tornar mais lenta a operação. "Nós próximos dias, com certeza o número de corpos [encontrados] aumentará. Entretanto, a velocidade de avanço diminui, porque o trabalho é mais minucioso", afirmou o porta-voz dos bombeiros.
A barragem de rejeitos, que ficava na mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, se rompeu na sexta-feira (25). O mar de lama varreu a comunidade local e parte do centro administrativo e do refeitório da Vale. Entre as vítimas, estão pessoas que moravam no entorno e funcionários da mineradora. A vegetação e rios foram atingidos.
Desde sábado (26), não são achados sobreviventes. Para os bombeiros, é muito pequena a possibilidade de achar alguém vivo em meio ao mar de lama. Nesta sexta-feira (dia 1º), os trabalhos devem recomeçar às 4h.
Neste sétimo dia de buscas, os trabalhos começaram por volta das 4h. Há mais de 360 militares e 15 aeronaves em operação. As atividades ocorrem em todo o perímetro afetado pela lama – os bombeiros dividiram a área afetada em 18 pontos.
As buscas estão concentradas no refeitório da Vale. De acordo com o porta-voz dos bombeiros, há corpos espalhados "em uma área muito grande". "Só que os que foram encontrados hoje estão nas imediações do refeitório e do pontilhão que desabou", descreveu o tenente Aihara, citando a estrutura que sustentava uma ferrovia e desmoronou.
Mais cedo, ele disse que o raio de buscas deve ir aumentando – a lama se desloca a 1km/h.
Além dos militares, 66 voluntários trabalham no local. Eles fizeram cadastro prévio e estão agindo próximo às áreas quentes, na chamada "zona morta".
O delegado da Polícia Civil em Brumadinho, Arlen Bahia, informou que, dos 71 corpos identificados, 60 já foram entregues aos familiares e 11 estão no Instituto Médico Legal (IML) aguardando liberação.
De acordo com ele, ainda é possível, em determinados casos, identificar as vítimas por meio de impressão digital. "Mas daqui, para frente, tudo indica que provavelmente a identificação será via odontológica ou DNA", disse.
Já foram coletadas amostras de DNA de mais de 200 pessoas de mais de 100 famílias para ajudar nos trabalhos de identificação das vítimas.
Porta-voz da Polícia Civil, o delegado Luis Carlos Ferreiro afirmou que a identificação visual e de digitais torna-se mais difícil com o passar dos dias.
Em entrevista coletiva do início da tarde, o tenente-coronel Flávio Godinho, da Defesa Civil, foi questionado sobre informação do Movimento de Atingidos por Barragens, que afirma que o número de desaparecidos pode estar sendo "maquiado" – as vítimas seriam, na verdade, 600.
Godinho reiterou que há sete postos para captação de informações e pediu a quem tem parentes desaparecidos que vá a esses locais. Lá, deve haver psicólogos, assistentes sociais, médicos e enfermeiros. Também deve haver atendimento em relação a direitos trabalhistas e questões jurídicas.
Na entrevista coletiva do início da noite desta quinta, o coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais, tenente-coronel Flávio Godinho, afirmou que "nenhuma comunidade, bairro ou cidade que recebe água de concessionária vai ficar sem água" por causa da contaminação do Rio Paraobepa pela lama.
"A única ressalva são para pessoas que fazem a captação de forma autônoma. Os ribeirinhos não podem consumir a água. 50 caminhões-pipa com 20 mil litros de água potável estão sendo distribuídos as famílias que fazem a captação autônoma", afirmou.
Mais cedo, foi dado alerta para a população não entrar em contato com a água do Rio Paraopeba, atingido pelos rejeitos da barragem. Apesar disso, as autoridades negaram risco de desabastecimento.
Em entrevista coletiva nesta quinta em Brasília, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, afirmou que o rompimento da barragem em Brumadinho foi muito rápido, fazendo com que a sirene de alerta que deveria fosse "engolfada" pela lama.
"Aconteceu um fato que não é muito usual: houve um rompimento muito rápido da barragem", afirmou o presidente da Vale. "A sirene foi engolfada pela queda da barragem antes que ela pudesse tocar."
Ele deu a declaração depois de se reunir com procuradores na sede da Procuradoria-Geral da República. De acordo com o executivo, a intenção da empresa é acelerar ao máximo o processo de indenização das vítimas por meio de acordos extrajudiciais.
Já o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, disse que a mineradora deve repassar R$ 80 milhões a Brumadinho ao longo de dois anos, como forma de compensar os impostos que deixam de ser arrecadados.
Nesta quinta, os israelenses que reforçavam o trabalho dos bombeiros brasileiros deixaram os trabalhos de resgate. Eles foram homenageados num quartel em Belo Horizonte.
O grupo havia chegado no domingo (27), com 16 toneladas de equipamentos. Reforços de outros estados devem chegar para ajudar nas buscas.
O tenente-coronel Flávio Godinho, da Defesa Civil, afirmou em entrevista coletiva no início da tarde que não há, neste momento, espaço para "fake news" e desinformação. Ele disse que não houve nenhum desacerto entre as tropas locais e as tropas da ajuda oferecida pelo governo israelense: "Eles nos ensinaram novas formas de atuação".
Para o tenente Pedro Aihara, porta-voz dos bombeiros, a colaboração com as tropas de Israel foi "bastante positiva".
Também nesta quinta, técnicos da Vale devem terminar a barreira de contenção no rio Paraopeba para evitar o avanço da lama.
A Policia Civil deve ouvir centenas de pessoas nos próximos dias na investigação para apurar as causas do rompimento da barragem.
Nesta quarta, cinco sobreviventes já foram ouvidos, de acordo com o chefe da polícia, delegado Wagner Pinto.
As testemunhas falaram sobre o local em que estavam durante o desastre, o que viram e ouviram. Ele confirmou também que uma perícia técnica deve ser feita na própria barragem e nos documentos da mineradora.
O porta-voz da Polícia Militar, major Flávio Santiago, disse em entrevista coletiva nesta quinta que médicos e psicólogos militares estão acompanhando os bombeiros na chamada "área quente" (onde se concentram as buscas).
Na véspera, o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, tenente Pedro Aihara, tinha explicado que os militares estão sendo submetidos a um rodízio para que possam descansar: "Estão numa lógica de rodízio, mas evidente que pelo tipo de operação e pela demanda que a gente tem é um serviço extenuante".
Ele comentou: "Têm circulado vídeos que mostram o cansaço físico e a exaustão, mas isso é inerente à nossa própria atividade. Ao final de uma operação como essa, nós saímos desgastados física e psicologicamente, mas, para tudo isso, é feito um acompanhamento".
Nesta quarta, os bombeiros passaram a usar máscaras para conseguir suportar o mau cheiro dos corpos em decomposição.
De acordo com a assessoria de comunicação dos bombeiros, as máscaras de proteção têm dupla função: evitar a inalação de resíduos tóxicos e dos equipamentos que os bombeiros usam nas buscas e, também, que os soldados sintam o mau cheiro tão intensamente.
Nesta quinta, a Vale começou a inscrever famílias que vão receber uma doação emergencial R$ 100 mil da mineradora. Não se trata de indenização. As famílias devem ir a um dos postos de atendimento criados pela Vale – a Estação de Conhecimento e o Centro Comunitário de Feijão. É preciso apresentar documentos que comprovem o parentesco.
O atendimento segue a lista da Defesa Civil de segunda-feira (28), com 310 nomes de desaparecidos. Se a pessoa perdeu mais de um parente, a doação será por número de vítimas. Assim, a família que tiver perdido duas vítimas para a tragédia vai receber R$ 200 mil.
Até agora, 44 famílias fizeram a inscrição. A Vale disse que o prazo para fazer o depósito é de cinco dias corridos.
A inscrição é por ordem alfabética – leva-se em conta o primeiro nome da pessoa que morreu ou está desaparecida. Nesta quinta, foram credenciados os nomes que começam com as letras A e B.
A previsão é terminar as inscrições até terça-feira (5), mas não há um prazo final para comparecimento de quem perdeu um familiar na tragédia.
O pagamento vai ser feito de acordo com uma ordem preferencial:
O major Flávio Santiago, porta-voz da Polícia Militar, disse nesta quinta que 950 policiais militares continuam no terreno fazendo "varredura" e proteção ao patrimônio.
O objetivo é proteger o perímetro da chamada "área quente" (onde deve estar concentrado o maior número de vítimas) e garantir a segurança da área rural, que tem 400 km quadrados de extensão (dois terços deste espaço foram percorridos até esta quinta, segundo Santiago).
As tropas só deixarão o local "depois que as condições de segurança voltarem à normalidade", afirmou Santiago ainda nesta quarta. De acordo com ele, um casal já tinha sido preso em uma tentativa mal sucedida de saque. Não houve nenhum outro registro.
Dezenas de animais já foram retirados da lama e de arredores da área atingida pelo rompimento da barragem em Brumadinho. Cachorros, bovinos, gatos, aves e cavalos recebem os primeiros cuidados após o resgate e são levados para uma fazenda.
Até a tarde desta quinta, equipes do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil, voluntários e as equipes de resgate haviam salvado 57 animais. Entre eles, um cachorro recebeu cuidados de veterinários após chegar sujo de lama. Ele foi amparado e escovado pelas profissionais.
Na fazenda, uma ninhada de gatinhos já descansava em uma gaiola, assim como um cão.
Dezenas de passarinhos também estavam acomodados em gaiolas. No curral, um boi resgatado na lama descansava tranquilo.
Segundo os responsáveis pelos animais, será feito um banco de imagens para tentar localizar os donos, aqueles que ficarem desamparados devem ser encaminhados para adoção. De todos os animais resgatados, três precisaram ser adotados.
A Força Aérea Brasileira (FAB) registrou, em média, mais de 20 de voos de helicóptero por hora nas ações de resgate em Brumadinho. O número se refere aos voos realizados entre domingo (27), dia em que a FAB começou a operar um controle de tráfego na região, e esta quarta-feira (30).
Na região, operam helicópteros dos bombeiros, da Polícia Militar de Minas Gerais, do Exército, da Marinha e da FAB.
Os helicópteros têm sido usados para missões como resgate de vítimas, transporte de militares e visualização da área afetada pelo mar de lama liberado após o rompimento da barragem de mineração da Vale.
Ao todo, a FAB registrou 2009 voos de domingo a quarta-feira.
A Igreja Matriz de São Sebastião em Brumadinho ficou lotada na noite desta quinta para a missa de sétimo dia em homenagem às vítimas da tragédia.
A praça e a rua que ficam em frente ao local foram tomadas de pessoas que não conseguiram entrar por causa da multidão.
Todas as paróquias das 28 cidades que fazem parte da Arquidiocese de Belo Horizonte celebraram missa de sétimo dia em homenagem às vítimas da tragédia de Brumadinho.