O motorista particular Rafael Henrique Dutra, preso pela morte da ex-diretora do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), Gabriela Cunha, disse em depoimento que pagou R$ 5 mil para um conhecido matá-la. Os dois chegaram a cumprir pena juntos na Papuda. O G1 teve acesso ao depoimento.
No relato que fez à polícia após confessar o crime, Rafael disse que agiu porque se sentia “explorado pelo fato de ser acionado a qualquer hora do dia” por Gabriela e que estava interessado nos R$ 70 mil que ela tinha embolsado com a venda de um imóvel em Pirenópolis, em Goiás.
A venda do imóvel teria sido realizada pelo motorista, mas ele alega não ter recebido a comissão prometida de R$ 12 mil.
Ao final do depoimento, Rafael Henrique Dutra disse estar arrependido. Ele está preso desde segunda-feira (28). O prazo da prisão temporária de Rafael vence nesta sexta-feira (1º).
A polícia disse que já pediu a prorrogação da prisão.
Segundo Rafael, a ideia de matá-la surgiu após rever o antigo companheiro de cadeia, apelidado de “Baiano”. Os dois se encontraram por acaso em uma lanchonete na Rodoviária do Plano Piloto, no início de outubro. Momentos depois, teve a ideia de chamar o comparsa para ajudar no crime. A ideia foi combinada dois dias depois.
O plano foi executado em 24 de outubro, dia em que a médica iria a uma agência bancária em Sobradinho para sacar o auxílio-doença. O motorista mandou o comparsa esperar em uma parada de ônibus em Sobradinho II para fingir um assalto.
Depois de sair do banco com a médica, ele desviou o caminho e fingiu uma pane no carro para estacionar na frente da parada que tinha sido combinada com Baiano. Foi aí que ele entrou no carro e anunciou o assalto com uma faca.
Ele pediu o celular dela e mandou Rafael dirigir até Brazlândia. Em uma estrada de terra, Baiano mandou a médica descer e a levou até o matagal. Rafael ficou dentro do carro. Baiano não usou a faca: Gabriela foi morta enforcada com uma corda, que foi deixada no local do crime.
Depois do crime os dois não se encontraram mais, de acordo com relato do motorista.
Rafael disse que começou a se passar por Gabriela em mensagens do WhatsApp porque a família começou a procurar por ela no mesmo dia do crime. Foi neste momento que ele disse que “inventou a história de que estava internada em uma clínica e que retornaria no Natal”.
Segundo ele, as mensagens foram mantidas com uma secretária do Hospital Regional de Taguatinga e a família de Gabriela. Ele só parou no começo de janeiro, quando foi chamado para dar as primeiras explicações à polícia. Depois disso, jogou fora o celular e um cartão de crédito dela.
Em 28 de dezembro, após o ex-marido dizer que precisava falar "urgente" com a Gabriela, Rafael enviou as seguintes frases:
Nos dois meses em que fingiu ser a médica, o motorista movimentou cerca de R$ 200 mil da conta bancária da vítima e comprou ao menos dois automóveis.
O delegado da Divisão de Repressão a Sequestros, Leandro Ritt, explicou que o motorista conseguiu roubar toda essa quantia porque Gabriela, por causa da vida atribulada, acabou dando uma procuração de plenos poderes ao motorista – permitindo que ele fizesse pagamentos e assinasse documentos no nome da médica.
"Durante dois anos, atuou como motorista e também como gerente das suas contas pessoais. Ele tinha uma procuração com plenos poderes. A partir do segundo semestre de 2018, alertada por um namorado, Gabriela tirou esses poderes."
Durante o depoimento, o motorista confessou que está com dois carros que pertencem à médica e que fez inúmeros saques em caixas eletrônicos, empréstimo consignado, compras em comércio e também fez três transferência no valor de R$ 10 mil para a conta bancário de seu amigo, referente à compra de um carro.