A retirada de uma mulher afundada na lama foi uma das imagens mais impactantes do resgate de sobreviventes da tragédia de Brumadinho, na sexta-feira (25). Paloma Prates da Cunha, de 22 anos, mal conseguia se mexer para segurar a corda atirada por um funcionário da Vale.
"Estava muito cansada. Não conseguia me movimentar muito bem. Estava com dor no peito e não conseguia respirar direito", relembra Paloma Prates da Cunha.
A auxiliar de cozinha foi levada ao hospital e ficou 4 dias internada. Ainda se recupera do nariz e do osso esterno (peito) quebrados, e o corpo está cheio de hematomas, escoriações e cortes.
Mas a dor maior é a morte do marido Robson, 26 anos, e do desaparecimento de seu bebê e único filho, Heitor, 1 ano e 6 meses, e da irmã caçula Paola, de 13 anos.
"No momento, a única coisa que eu queria era ter minha família do meu lado. Se alguém souber do meu filho ou irmã entre em contato com a gente", diz Paloma
O marido estava de férias, o bebê estava brincando pela casa, e a irmã tinha ido visitá-la.
"Estava em casa com meu esposo, irmã e filhinho e, na hora em que escutei o barulho, não tinha tempo de fazer mais nada. Quando dei por mim, já estava perto daquele lugar", relata Paloma
Paloma conta que não entende ainda como sobreviveu à avalanche de lama. Repetindo que seria retirada por Deus, a auxiliar de cozinha diz ter tomado impulso em um pedaço de madeira e agarrado ao que viu pela frente. Neste momento, entrou em ação o “anjo”, Claudiney Coutinho, funcionário da Vale que fazia manutenção nos trilhos da ferrovia e localizou Paloma. Ele atirou uma corda e pediu para que tivesse calma, para respirar, que ela iria sair da correnteza.
“Quero muito poder encontrá-lo. Eu ouvi a voz dele me chamando naquela hora. Na verdade, não sei nem o que vou dizer. Só no momento que a gente se encontrar que eu vou conseguir colocar pra fora”, afirmou Paloma
Com a casa destruída, ela mora na casa dos tios em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mas já pensa em voltar ao local da tragédia. Lá, viveu por 4 anos. A pequena casa que tinha galinhas, cachorros e horta no quintal.
Disse que só após ter sido entrevistada pela apresentadora Ana Maria Braga, no programa Mais Você, que a Vale entrou em contato. Ofereceram comida, assistência psicológica e falaram sobre o cadastro para receber a doação da mineradora. “Mas só me ligaram porque eu dei a entrevista. Meu pai, que perdeu a minha irmã, até hoje eles não tinham procurado. ”
Ela conta que se falava sobre o risco do rompimento, mas os moradores confiavam a empresa. “Eles vieram uma vez, fizeram o levantamento, anotaram nossos bens. Eles garantiam que nunca ia acontecer.” Mas critica a falta de ação preventiva e diz que a mineradora deveria ter desapropriado a região. “Se tinha o risco, deviam ter desapropriado. Se isso tivesse acontecido, teria agora só o prejuízo material, não tínhamos perdido tantas vidas. ”
Ela ainda conta que no dia do treinamento de retirada dos moradores, não ouviu nenhuma sirene e que foi alertada por um amigo pelo telefone que o treinamento estava acontecendo. “Eles não usaram sirene, usaram essas buzinas de carnaval. Agora, falam que a sirene foi engolida antes pela lama, mas ela nunca foi tocada pra falar que ela existia. ”