A enfermeira Jannaina Pizzani, irmã de João Paulo Pizzani Mattar, de 37 anos, que era funcionário da mineradora Vale e está entre as 205 pessoas desaparecidas após o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), diz que a família está desesperada.
A tragédia foi registrada no dia 25 de janeiro. Na ocasião, os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia, inclusive um refeitório, e parte da comunidade da Vila Ferteco.
“Nós não conseguimos fechar o ciclo porque cada dia que passa sabemos que fica mais difícil encontrar o corpo dele inteiro. Nós oramos para que Deus nos permita encontrar o corpo do meu irmão para que ele seja sepultado”, disse Jannaina.
A mulher de João Paulo, Rosilene Ozório Pizzani Mattar, também trabalhava na Vale no momento da tragédia. O corpo de Rosilene foi encontrado e sepultado na quarta-feira (30).
A irmã conta que João Paulo nasceu em Belo Horizonte, mas ainda bebê mudou-se com a família para Arenápolis, a 259 km de Cuiabá. Ele viveu no município por cerca de 22 anos e retornou a Belo Horizonte.
Segundo Jannaina, o irmão nasceu com uma doença chamada mielomeningocele, também conhecida como espinha bífida aberta, que é uma malformação congênita da coluna vertebral da criança em que as meninges, a medula e as raízes nervosas estão expostas.
“Quando meu irmão tinha 4 dias de nascido passou pela primeira cirurgia. Na época, os médicos disseram que ele jamais andaria. Aos 4 anos ele já andava normalmente. João Paulo venceu muitas dificuldades e superou as expectativas médicas. Aos 12 anos, passou por outra cirurgia”, diz Jannaina.
Conforme ela, em 2005 João Paulo passou por um processo seletivo e começou a trabalhar na mineradora.
“Ele começou como mecânico e depois passou a ocupar o cargo de auxiliar administrativo”, conta a irmã.
Ele conheceu Rosilene na mineradora e os dois casaram em 2010. O casal fazia planos de ter filhos, mas ainda não tinham conseguido engravidar.
Jannaina conta que desde a tragédia, nenhum representante da mineradora Vale entrou em contato com a família.
“A única vez que nós conseguimos falar com eles foi porque eu procurei. Nunca fomos procurados. Eles pagam o sepultamento. Quando a família vai ao Instituto Médico Legal (IML) e reconhece um corpo, imediatamente a empresa providencia o funeral. Porém, as despesas como passagens aéreas para que eu pudesse sair de Cuiabá estão sendo por minha conta. Eles dizem que vão ressarcir, mas até agora não fizeram”, diz.
A Vale montou um posto para o atendimento as famílias dos 205 desaparecidos e dos 121 mortos. Jannaina está no local em busca de informações sobre o irmão.