A Polícia Civil de Minas Gerais prendeu o pai e o avô de uma menina de 12 anos por suspeita de estupro; as prisões foram efetuadas na quinta-feira (7) e na quarta (6). A adolescente foi vítima das agressões dos dois por pelo menos cinco anos em Janaúba, no Norte de Minas. Os crimes foram descobertos depois que uma psicóloga da escola onde a menina estuda ter orientado a vítima a escrever cartas para desabafar. Nas cartas ela fala da dor provocada pelo pai e avô, além de dizer que se sente culpada.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Bruno Fernandes Barbosa, o avô, de 72 anos, e o pai da criança, de 43, são caminhoneiros. O idoso foi localizado na casa em que mora, na cidade de Betim. Os abusos contra a neta ocorreram quando ele fez visitas à família no Norte de Minas. Na carta que escreveu para o avô, a adolescente chega a relatar que os abusos começaram quando ela ainda não entendia o que estava acontecendo.
“Querido avô, fico triste até hoje com isso de tudo que você me fez sabe me machucou muito mais estou melhorando aos poucos. Começou quando você fez isso comigo 5 ou 6 anos bom e eu não sabia o que o senhor fazia comigo eu apenas deixava mas, agora que eu cresci sei o que você fazia comigo era errado [sic]”, diz a carta.
No texto, a menina ainda diz que tem medo do “amor falso” que tinha pelo avô, e afirma que apesar de tudo gosta dele, só não se sente à vontade de estar no mesmo lugar que ele. Ao final, ela se despede e diz que perdoa o homem de 72 anos pelo erro dele e chega a mencionar que enxergou os próprios erros que cometeu.
A carta para o avô foi escrita no dia 18 de dezembro de 2018, mas, segundo a PC, nunca foi entregue.
A Polícia Civil de Janaúba deflagrou uma operação na BR-040 para interceptar o caminhão do pai da menina. O homem de 43 anos estava em um frete de combustíveis e a polícia descobriu que ele faria uma entrega em um posto de Felixlândia. Quando o homem estacionou no local, foi detido.
Nas cartas que também escreveu para o pai, a menina de 12 anos diz que se sente culpada por não aguentar mais segurar o segredo. “Toda minha vida eu vivi isso sem conta para ninguém, sofrendo sozinha, calada, fico assim até os dias de hoje chorando no quarto ou no banheiro e me machucando varias vezes, ate que não aguentei e desabafei [sic]”, diz a menina quando se refere às sessões com a psicóloga do colégio onde estuda.
Segundo investigações da Polícia Civil, a menina chegou a ferir os próprios pulsos diversas vezes com objetos cortantes. Na carta para o pai, ela diz ter pensado na morte e que no fundo sabe que teve culpa. Em uma parte do relato, ela diz ter sofrido mais de nove anos de abusos.
“Todos falam que não tive culpa mais no fundo eu sei que tive e a minha madrinha também te perdoa pelo que voce fez com ela também. Foram mais de 9 anos de abuso sem eu não conta para ninguém absoluto, se não era sozinha em casa voce fazia com gente em casa e voce não tem vergonha não? [sic]”, levanta o questionamento para o próprio pai.
Ela finaliza o texto dizendo que uma parte dela diz para não perdoá-lo, mas que perdoa o pai agressor por tudo. Segundo a polícia, a madrinha a que a menina se refere no texto é uma tia dela. A suspeita é que a mulher também tenha sido estuprada pelo pai da adolescente.
A Polícia Civil informou ao G1 ter recebido a denúncia por parte da escola em que a menina estuda em janeiro deste ano. Desde então, investigou junto ao colégio e com a mãe da garota. O delegado Bruno Fernandes informou que o celular da mãe dela chegou a ser apreendido para saber se a mulher tinha conhecimento do crime.
“Até então, ficou constatado que a mãe não tinha conhecimento. No início, ela tentou esconder que tinha suspeitas do pai da criança e tentou criminalizar apenas o avô. No decorrer das investigações, achamos mensagens dela contando a situação para uma amiga e ela relata que chegou a expulsar o marido de casa depois de suspeitar dos abusos”, conta o delegado.
Ainda segundo a Polícia Civil, é importante que as famílias se atentem para situações em que as crianças ficam introspectivas e caem de rendimento na escola. “A criança caiu de rendimento na escola, ficou muito introspectiva, por isso a escola dela acionou o setor de psicologia. São situações muito comuns, e elas se sentem culpadas porque os autores colocam isso na cabeça delas. É preciso ter atenção”, alerta Barbosa.
Os dois homens foram presos através de mandados de prisão preventiva e foram conduzidos a presídios de Betim e Janaúba. Até esta publicação, a Polícia Civil elabora o inquérito sobre o caso e deve encaminhar à Justiça nos próximos dias.
O G1 tentou falar com a advogada de defesa dos envolvidos, mas as ligações não foram atendidas.