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Jovem aprovado 'em dobro' na EsPCEx supera câncer e realiza sonho de ser militar: 'Sempre acreditei'

Mateus Henrique Resende, de 20 anos, enfrentou doença quando fazia adaptação na Escola em 2017. Tratamento do linfoma surpreendeu médicos e, em novo concurso, jovem conquistou vaga entre mais de 40 mil inscritos.

Data: Domingo, 17/02/2019 07:56
Fonte: G1

O sorriso discreto e a timidez disfarçam a força e a determinação do jovem Mateus Henrique Resende, de 20 anos. Após ter nas mãos o sonho de se tornar militar pela Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas (SP), foi diagnosticado com um câncer que o afastou da farda. Batalha e vitória surpreenderam, e, dois anos depois, trouxeram o sonho de volta. O dia 16 de fevereiro de 2019 ficará marcado para sempre.

 

"Sempre no tratamento eu pensava: Eu vou voltar. Não importa o que eu vou fazer, se vai demorar, eu vou conseguir. Eu sempre acreditei", conta, emocionado.

 

 

Neste sábado, aconteceu a cerimônia de entrada dos novos alunos na Escola, com a entrega da boina azul, símbolo desta etapa. Junto com outros 444, Mateus vestirá a farda do Exército Brasileiro pela primeira vez.

"Não tenho palavras para descrever. A entrega da boina, eu sempre sonhei... E faltava muito pouco. Eu espero dar muito orgulho pra eles, meu pai e minha mãe me ajudaram muito no tratamento. A fé da minha família foi realmente muito importante", diz.

 

Linfoma não-Hodgkin

 

Mineiro, ele deixou pai, mãe e irmão caçula na pequena Santa Cruz de Minas, cidade a 186 km de Belo Horizonte (MG), aos 18 anos. Desfrutava da conquista de uma vaga na Escola de Cadetes no ano de 2017 quando os sintomas surgiram.

"Senti uma dor muito forte na perna, um inchaço muito grande na perna direita. Foi então que eu fui na enfermaria verificar o que era. O médico do exército me disse que poderia ser algo muito grave, e que eu não poderia participar da entrega da boina, que sempre foi meu sonho", conta.

Biópsia na Unicamp. Um mês de espera na enfermaria da Escola. E, enfim, o diagnóstico de linfoma não-Hodgkin, um câncer que afeta células do sistema linfático.

"Sabiam que era algo grave e eu não podia saber sozinho. Minha família percorreu seis horas de viagem para saber o diagnóstico. O médico disse que suspeitavam de três doenças: o sarcoma, que eu teria que perder a perna; a leucemia, que provavelmente não teria cura; e o linfoma, que foi o diagnosticado".

 

"A família inteira desabou. Se não foi o pior dia da minha vida, foi um dos piores", lembra o aluno.

 

Ainda não era o momento do jovem assinar "Resende" como seu nome de guerra, mas a guerra já estava diante dele.

Pausa no sonho

 

Mateus teve que ser desligado da EsPCEx, nem chegou a ser consagrado aluno. Voltou para casa. A cada 21 dias, viajava seis horas até Campinas para um tratamento na Unicamp, que previa seis sessões de quimioterapia e um provável transplante de medula óssea.

 

"Comecei a fazer a quimioterapia, senti os sintomas, cabelo caiu, sobrancelha, tudo caiu", diz.

 

Na quarta sessão, a esperança esbarrou na incerteza dos médicos. A medicação parecia não surtir o efeito esperado. Enquanto a família se apegava em orações, o jovem fazia a inscrição novamente na Escola de Cadetes. A cura sempre foi uma certeza para ele.

"No meio do tratamento fiz a inscrição para fazer a prova de novo, só que nesse período eu não tinha cabeça para estudar. Fiz a inscrição mesmo sabendo que talvez estaria em tratamento e não poderia fazer".

O cenário mudou nos dois meses seguintes. Ao término da quimioterapia, Mateus passou por exames que rastrearam o tumor por todo o seu corpo, mas não o localizaram mais. Ele havia vencido o câncer.

 

"Eu sempre acreditei e sempre botei nas mãos de Deus, que, se for pra ser, vai ser. Não importa o momento, você vai conseguir. Tudo é no tempo de Deus".

 

 

De volta aos estudos

 

Havia pouco tempo para estudar até a prova daquele mesmo ano, e a média no concurso não o favoreceu. Ele também não estava forte o suficiente para passar nos exames militares.

Em meio ao monitoramento da sua saúde a cada seis meses na Unicamp, ele retomou os estudos no ano seguinte, e a aprovação era mais que uma certeza. O sonho estava vivo, e muito próximo de ser realizado. Mateus passou no concurso, pela segunda vez.

 

"Espero dar orgulho a meus pais. Espero que consiga ser um bom militar".

 

 

O retorno

 

De volta, dois anos depois. Entre mais de 40 mil inscritos, Mateus era um dos 445 selecionados.

Desde 22 de janeiro de 2019, o período de adaptação tem sido uma assinatura da sua superação. Nem ele imaginava conseguir correr 3 km em 12 minutos, ou atravessar 50 metros em uma piscina em menos de 40 segundos.

A perna curada o trouxe até aqui, e, a partir deste 16 de fevereiro, "Resende", seu nome de guerra, será a assinatura do seu sonho.

 

"Nunca desista por poucas coisas. Tem muita gente pior que você. Eu achava que eu estava na pior, mas tinha muita gente bem pior que eu. Se você tem condições de estudar, não desanime. Tem tudo pra dar certo", acredita.