Pausa no sonho
Mateus teve que ser desligado da EsPCEx, nem chegou a ser consagrado aluno. Voltou para casa. A cada 21 dias, viajava seis horas até Campinas para um tratamento na Unicamp, que previa seis sessões de quimioterapia e um provável transplante de medula óssea.
"Comecei a fazer a quimioterapia, senti os sintomas, cabelo caiu, sobrancelha, tudo caiu", diz.
Na quarta sessão, a esperança esbarrou na incerteza dos médicos. A medicação parecia não surtir o efeito esperado. Enquanto a família se apegava em orações, o jovem fazia a inscrição novamente na Escola de Cadetes. A cura sempre foi uma certeza para ele.
"No meio do tratamento fiz a inscrição para fazer a prova de novo, só que nesse período eu não tinha cabeça para estudar. Fiz a inscrição mesmo sabendo que talvez estaria em tratamento e não poderia fazer".
O cenário mudou nos dois meses seguintes. Ao término da quimioterapia, Mateus passou por exames que rastrearam o tumor por todo o seu corpo, mas não o localizaram mais. Ele havia vencido o câncer.
"Eu sempre acreditei e sempre botei nas mãos de Deus, que, se for pra ser, vai ser. Não importa o momento, você vai conseguir. Tudo é no tempo de Deus".
De volta aos estudos
Havia pouco tempo para estudar até a prova daquele mesmo ano, e a média no concurso não o favoreceu. Ele também não estava forte o suficiente para passar nos exames militares.
Em meio ao monitoramento da sua saúde a cada seis meses na Unicamp, ele retomou os estudos no ano seguinte, e a aprovação era mais que uma certeza. O sonho estava vivo, e muito próximo de ser realizado. Mateus passou no concurso, pela segunda vez.
"Espero dar orgulho a meus pais. Espero que consiga ser um bom militar".
O retorno
De volta, dois anos depois. Entre mais de 40 mil inscritos, Mateus era um dos 445 selecionados.
Desde 22 de janeiro de 2019, o período de adaptação tem sido uma assinatura da sua superação. Nem ele imaginava conseguir correr 3 km em 12 minutos, ou atravessar 50 metros em uma piscina em menos de 40 segundos.
A perna curada o trouxe até aqui, e, a partir deste 16 de fevereiro, "Resende", seu nome de guerra, será a assinatura do seu sonho.
"Nunca desista por poucas coisas. Tem muita gente pior que você. Eu achava que eu estava na pior, mas tinha muita gente bem pior que eu. Se você tem condições de estudar, não desanime. Tem tudo pra dar certo", acredita.