Em Mato Grosso existem pelo menos quatro candidatos declaradamente LGBT+. A intenção é garantir que temas como casamento homoafetivo, espaço no mercado de trabalho, programas especiais de saúde, educação contra o preconceito, criminalização da homofobia e uma série de pautas saiam do papel e passem a ser garantia de tutela do Estado sobre minorias que enfrentam o preconceito cotidiano em todo o país.
A tentativa de levantar a bandeira colorida na Câmara Federal e na Assembleia enfrentará o fortalecimento de correntes contrárias a estes temas, principalmente, com a onda de conservadorismo e ideologia religiosa que avança na ocupação de cadeiras no Congresso Nacional, assim como no Legislativo estadual.
Em Mato Grosso, alguns nomes não se intimidam nesta luta, e viabilizam serem vozes ativas e incansáveis no chamamento para o debate quando está em questão o pleno cumprimento da Constituição Federal (1988), em que se prega a igualdade entre todos os cidadãos brasileiros.
O site entrevistou esses candidatos que pretendem mudar a história do país e de Mato Grosso, e acima de tudo ocupar espaços que historicamente foram estruturados em ideologias heteronormativas, machistas, patriarcalistas e exclusivistas.
O advogado Ícaro Reveles (PSB) é candidato a deputado federal. Com 29 anos de idade, o parlamentar cumpre primeiro mandato eletivo na Câmara de Várzea Grande. Gay assumido, o candidato diz que não tem muito espaço para discutir temas da pauta LGBT+ no Legislativo municipal, já que são temas de competência majoritária do Legislativo Federal.
Ícaro avalia que os assuntos “gays” enfrentam resistência da sociedade, principalmente por parlamentares que têm medo que projetos como casamento homoafetivo ou educação contra o preconceito nas escolas possam ser aprovados. “Por isso, não colocam nem em votação, o que parece ser contraditório já que tecnicamente, se somos a minoria, esses assuntos não passariam no Congresso. O medo é de colocarem estes temas em votação e passar".
Quanto aos votos do público LGBT+, Ícaro pondera que existe uma tendência de mais união dos eleitores deste público, assim como o surgimento de mais lideranças políticas. “O problema é que ainda existe também a resistência a candidatos de fora dos movimentos. Muitos pensam que é oportunismo eleitoral”.
Também na disputa por uma vaga na Câmara, o estudante Vinícius Brasilino (PCdoB), 26, é gay e busca defender os temas LGBT+ como questões de direito humano. Entre os principais desafios, o candidato elenca que o maior obstáculo quando a intenção é discutir assuntos como casamento homoafetivo ou questões de gênero está a repressão da bancada religiosa e de parlamentares conservadores.
Para Brasilino o principal gargalo na comunidade gay é lutar pelo reconhecimento da união estável e a possibilidade de adoção, com garantias em legislação, já que hoje essas possibilidades só existem com base em decisões judiciais.
Por outro lado, o candidato pondera que existem pautas que precisam ser combatidas em favor de toda a população, principalmente da classe trabalhadora e menos favorecida, como é o caso da Emenda Constitucional nº 95/16, que estabelece o congelamento dos gastos públicos, e que tem afetado diretamente os setores de educação e saúde.
Assembleia
Na disputa por uma vaga na Assembleia está a promotora de eventos, Rosiceli de Arruda, 46, popularmente conhecida como “Madona”. Lésbica, Madona tomou a decisão de se candidatar pela primeira vez este ano.
A candidata aponta que terá como principais objetivos criar programas que agreguem o combate ao preconceito, desde o ensino fundamental. Outra proposta é criar uma casa de acolhimento a LGBT+ que são expulsos de casa em razão da condição sexual e de gênero.
Temas como preparação e acesso ao mercado de trabalho para travestis e transexuais ou o suporte de saúde psicológica e física a transexuais - no processo de transmutação de sexo – precisam ser enfrentados e garantidos para determinados grupos LGBT+, que sofrem preconceito, discriminação e exclusão da vida social e acabam vivendo no submundo da miséria, desemprego e expostos a diversas violências.
Quem também pleiteia uma vaga no Legislativo Estadual é o vereador por Sorriso Maurício Gomes (PSB). Maurício é o 2º parlamentar assumidamente gay a sentar-se em uma vaga no legislativo municipal de Mato Grosso e o 1º a ser eleito de forma direta.
O candidato diz considerar que não é fácil um LGBT conquistar espaço em meio predominantemente ocupado por homens héteros, e muitas das vezes conservadores, impregnados de machismo ou ideologias religiosas, como está a política brasileira e mato-grossense.
Por outro lado, Maurício diz existir a tendência de aumento do apoio dentro da comunidade gay a candidatos LGBT+. Para o candidato o mais importante diante de toda a celeuma em torno dos temas gays é o respeito, fator que julga ser inafastável para que a classe política tome decisões de interesse coletivo e sociais.
Alianças
Dos quatro candidatos entrevistados, três fazem parte de partidos que compõem o arco de aliança em torno do projeto de reeleição de Pedro Taques (PSDB). Ícaro e Maurício fazem parte do PSB e Madona do PPS. Ambas as siglas estão com o PSL, do presidenciável Jair Bolsonaro, no palanque de Taques.
Quanto a isso, os três candidatos não se sentem constrangidos. Dizem ter recebido carta branca do partido para não subir no palanque onde estiver Bolsonaro ou qualquer outro candidato que contradiz a ideologia que defendem. O candidato à presidente pelo PSL, neste sentido, é o mais polêmico, já que declara abertamente seus posicionamentos contrários às pautas LGBT+.
Representatividade e enfrentamentos
As candidaturas de LGBT+ é na avaliação do professor Clóvis Arantes, 52, uma questão de representatividade. Clóvis é um dos fundadores do Movimento Livre Mente, em Mato Grosso, e coordena há 16 anos a Parada da Diversidade, que é realizada anualmente em Cuiabá, além de militar há 28 anos em movimentos que defendem os direitos humanos de LGBT+.
“São muito importantes essas candidaturas para dar visibilidade e ocupar os espaços. Também é importante que a comunidade vote nesses candidatos, quando a pessoa LGBT se propõe a disputar um espaço que é extremamente heteronormativo e marcado pelo machismo”, afirma.
Clóvis avalia que as eleições devem ser encaradas como uma das formas de enfrentamento a temas que valem o acesso a direitos humanos por LGBT+. “Esse enfrentamento precisa continuar depois das eleições, porque quando falamos que precisamos de mais saúde, educação, trabalho e renda, não é que achamos que isso seja importante, e sim porque é uma necessidade”.
Carência de políticos LBGT
A estimativa é de que 10% da população brasileira é formada por LGBT+, assim como em Mato Grosso, onde existem mais de 300 mil gays, lésbicas, transexuais, bissexuais entre outras identificações.
Considerando esses dados, Clovis avalia que ainda existem poucos candidatos declarados LGBT+ em Mato Grosso e no país. “Isso se dá em razão do preconceito interno dos partidos políticos. Os partidos precisam reconhecer a necessidade de candidaturas que agreguem. Existem nomes que podem agregar a luta pelos direitos humanos. Não são apenas as pessoas LGBT que devem ocupar esses espaços. Também precisam entrar nessa luta as mulheres, principalmente as mulheres negras, que precisam enfrentar o machismo e o racismo”.
Por outro lado, Clóvis ressalta que existem riscos aos temas LGBT+. “Estamos em um momento de muita fragilidade para garantir direitos fundamentais. A comunidade precisa ficar muito atenta, já que a depender dessas eleições, estamos em via de ter bancadas muito mais agressivas e contundentes contras os direitos humanos LGBT. Falar contra as bandeira LGBT passou a ser discurso de políticos contrários”.
Fonte: Rdnews
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